O diretor M. Night Shyamalan tem como mérito construir tensas situações de terror com muita eficiência nas produções que assina. Ele o fez em seu icônico "O Sexto Sentido" (1999), quando causou pavor na audiência ao direcionar a câmera para um corredor escuro, em "Fim dos Tempos" (2008), ao mostrar o suicídio de pedestres sem qualquer causa aparente, e em "A Vila", dominada pelo medo de monstros ocultos no escuro da floresta.
Por essa razão, criam-se expectativas quando o diretor indiano radicado nos Estados Unidos volta ao gênero que o fez famoso, como neste novo "A Visita". Aqui, ele se rende ao formato "found footage", aqueles centrados em um falso documentário, que invadiram os cinemas depois da década de 2000, na esteira do sucesso estrondoso de "A Bruxa de Blair" (1999).
No roteiro assinado pelo próprio Shyamalan, segue-se a adolescente Becca (Olivia DeJonge) e o jovem Tyler (Ed Oxenbould), que vão pela primeira vez encontrar seus avós (Deanna Dunagan e Peter McRobbie). O convite vem de surpresa, pois a mãe das crianças (Kathryn Hahn), após uma briga, ficou mais de 15 anos sem falar com os pais.
Embora veja na solicitação uma oportunidade de reaproximação, a mãe prefere viajar com as amigas a encarar os velhinhos e, a pedido dos filhos, deixa-os ir sozinhos ao interior. Becca e Tyler pretendem entender o que aconteceu nessa família, entrevistando os envolvidos e filmando o dia a dia com esses parentes até agora desconhecidos.
Neste ponto, é preciso destacar que a fixação pelo documental dos jovens sugere uma formação não apenas fílmica da dupla (e, aqui, uma certa homenagem ao próprio ofício do cinema), mas também crítica ao que veem dentro de sua família.
Shyamalan joga com os conflitos entre gerações do quarteto, proveniente do estranhamento de dois mundos que colidem.
Essa tensão logo ganha ares mais assombrosos a partir de um pedido simples feito aos irmãos: "Não saiam do quarto depois das 21h30". O problema é que se ouvem ruídos estranhos pela casa, quando os avós assumem comportamentos erráticos, muitas vezes violentos. Há uma força demoníaca ali ou esses idosos sofrem de alguma doença que os impele a essa conduta?
No equilíbrio entre a tensão e a violência, que começa a ganhar corpo progressivamente, a narrativa se volta ao que há de mais comum em filmes de terror, afastando-se de uma melhor estruturação da trama psicológica. Perde, portanto, o refinamento e a capacidade inventiva que o próprio diretor deixou como marca em sua filmografia (à exceção de "A Dama na Água").
Um filme curioso, tenso e que evoca, apesar do realismo fantástico que exercita, um inegável drama familiar. Características muito enraizadas nas produções de Shyamalan, que também têm vez em "A Visita".
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